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Cenas & Coisas

Cenas & Coisas

06.Abr.20

Dia 26 - Como estamos a viver este confinamento

Estamos todos a viver tempos difíceis, alguns mais que outros, mas todos estamos a ser afectados pela conjuntura causada pelo Covid-19. Após 26 dias em casa, decidi deixar aqui um desabafo sobre a minha experiência. O meu maior desafio tem passado por entreter e fazer uma vida “normal” com crianças fechadas em casa apesar de que hoje nada é “normal”.

 

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Tenho visto muitos memes e frases a comentar que agora com as escolas fechadas por causa do Covid-19 é que damos mais valor às educadoras e professoras. Que deviam ganhar muito mais e tal. Não posso concordar com essas afirmações. Estou já há um mês em teletrabalho com duas crianças em casa, uma de 2 e outra de 4 anos. E o verdadeiro desafio, não tem sido estar com elas todos os dias, isso é algo que não me incomoda nada, se fosse de outra maneira porque é que teria tido filhos?!

As grandes dificuldades desse confinamento com crianças são coisas que não acontecem num contexto normal em que elas vão à escola. Antes do Covid-19 as crianças não tinham de ficar fechadas todos os dias em casa sem poderem ir ao parque ou passear na rua. Antes do Covid-19 as crianças não tinham de se distanciar e não verem por muitos dias os avôs, os tios, os primos ou os amigos. Antes do Covid-19 as crianças tinham uma rotina com escola, actividades e fim-de-semana. O meu filho já se fartou de chorar porque quer voltar à escola e à piscina e por mais que lhe tente explicar a situação actual, ele não percebe completamente.

O mais difícil nisso tudo e que vai piorando ao longo dos dias pela falta das rotinas que falei acima, é trabalhar a partir de casa, tanto eu como o meu marido, e não conseguirmos nem podermos dar a atenção que os nossos filhos precisam e merecem. Durante o fim-de-semana há menos birras, menos gritos, nem nos pedem tanta atenção, porque veem que estamos disponíveis. De segunda-feira a sexta-feira, assim que nos veem em frente aos computadores ficam automaticamente mais sensíveis e quando nos pedem atenção todos fofinhos mas que com muita pena temos que responder a um e-mail ou temos uma reunião e temos de recusar, então a maneira que encontram, inconsciente ou conscientemente de terem a nossa atenção, é fazendo tontices, e aí começam os gritos (muitos são meus…).  

Não pretendo desvalorizar o trabalho das educadoras ou dos professores (trabalhar e gerir crianças todos os dias é um trabalho a honrar sim Senhora), mas sim dizer que não se pode comparar o facto de gerir crianças num contexto de escola onde elas já sabem que faz parte da rotina delas irem à escola, obedecer a regras, e que depois saem e podem conviver com a família, ir ao parque, etc. com a fase em que estamos a viver onde Pais cansados e stressados com teletrabalho (ou não) têm de entreter e gerir as emoções de crianças também elas cansadas e confusas com tudo o que está a acontecer.

Já estive 1 mês com os meus filhos só comigo e com o meu marido quando o meu filho tinha 3 anos e a minha filha 5 meses, mas estávamos num contexto de férias. E correu lindamente! Não vou dizer que não havia birras e gritos. Onde há crianças há sempre isso, principalmente a partir dos 2 anos. Não é por nada que se fala dos terríveis 2. Mas nós pais, não estávamos exaustos e preocupados, estávamos num estado mental adequado para lidar com crianças.

Penso muito em como vamos ficar depois disto, todos quantos somos, adultos e crianças. E não escrevo este artigo para me queixar, primeiro porque adoro passar tempo com os meus filhos (apenas desejava que fosse tempo de qualidade e nem sempre é), segundo porque tenho a certeza que existem pessoas que estão a viver esta fase com mais dificuldades que eu e não se queixam. Todos nós estamos a viver com muitos receios e dúvidas por mais diversas que sejam. Espero que no final disto tudo, o máximos de pessoas fiquem bem porque por mais que se diga que vai ficar tudo bem, sabemos no fundo que não é bem assim.

 

Boa sorte a todos e coragem.

Um dia de cada vez.