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Cenas & Coisas

Cenas & Coisas

08.Ago.20

Se fosse só uma gripe...

Quando o Covid-19 era só um vírus desconhecido e que ainda havia poucos óbitos, também achava eu que era só uma gripe. Parecia que “só” morriam os mais frágeis, pessoas de muita idade mesmo, etc.

Entretanto chegaram os primeiros casos na Europa e pessoas que eram aparentemente saudáveis ficaram com sequelas graves ou até faleceram, e já comecei a temer um bocado mais esta doença.

Rapidamente passou a ser tratada por Pandemia, os países fecharam-se para limitar a propagação do vírus e aí percebi que não era só uma gripe.

No entanto, ainda se ouve muita gente a denegrir o vírus e a compará-lo com uma gripe.

Mas se fosse só uma gripe, os países não teriam fechado as fronteiras durante semanas.

Se fosse só uma gripe, as escolas não teriam encerrado e os pais não se teriam transformado em professores.

Se fosse só uma gripe, os aniversários não teriam sido só com os moradores da casa, mas sim festas com família e amigos.

Se fosse só uma gripe, os casamentos e batizados que são eventos ansiados por tantos não teriam sido adiados.

Se fosse só uma gripe, todos os pais teriam assistido ao nascimento dos seus filhos.

Se fosse só uma gripe, não teriam ficado 15 mil cancros por diagnosticar em Portugal por causa da limitação que houve no serviço nacional de saúde.

Se fosse só uma gripe, não deveríamos andar de máscara.

Se fosse só uma gripe, os finalistas poderiam ter festejado o final de curso.

Se fosse só uma gripe, haveria arraiais e festas de verão.

Se fosse só uma gripe, os idosos do lar que já se sentem à margem poderiam receber visitas dos familiares.

Se fosse só uma gripe, os doentes internados também poderiam receber visitas.

Esse último ponto é que me mete mais raiva contra este vírus e com quem diz que é só uma gripe.

O cancro é outra doença que há muito tempo me revolta. Chega muitas vezes do nada e atinge qualquer um independentemente da idade.

Mas gerir esta doença malvada neste contexto de pandemia é do pior.

Perdi uma amiga que lutou com a força toda durante 2 anos e que só abandonou quando já não recebia as visitas que adorava ter. Até podia nos deixar na mesma sem o Covid, era o mais provável, não sou ingénua, mas teria tido a despedida que merecia. Assim, só pudemos deixar umas mensagens ao seu marido, rezar cada um no seu canto e escrever uma lembrança no Facebook.

E como fazem aqueles que têm de ser internados de repente para começarem tratamentos, e já atingidos pelo choque de ter uma doença que se calhar nunca imaginaram ter, agora têm de passar por isso sozinhos num quarto de hospital?

E aqueles que já estão a lutar há muito, mas que já não conseguem lutar mais e que ficam retidos no hospital de um dia para o outro sem saber se voltarão a sair, mas que por causa deste terrível vírus nem podem receber visitas? Como fazem eles e os seus familiares?

E certamente não me consigo lembrar de todos aqueles que de uma maneira ou outra estão a passar por momentos difíceis por causa do Covid-19 e que nunca pensaram que algum dia passariam por isso.

Por todos esses motivos, deixo aqui uma mensagem àqueles valentes que não têm medo do vírus, que o tratam como uma gripe ou que acham que é tudo uma conspiração para os laboratórios criarem vacinas e lucrarem com isso.

Pessoal, por favor, pensem que conspiração ou não, este vírus está cá, este vírus está a matar muitas pessoas, mais do que aquilo que se esperava (morreram 722362 pessoas, ou seja 5% das pessoas que o apanharam) e não mata só velhos, não mata só pessoas com doenças crónicas. Se não conseguem ver isso, pelo menos tenham empatia e respeito por quem está a ver a sua vida mais complicada por causa do Coronavírus e não andem por aí a dizer que é só uma gripe, porque se fosse só uma gripe era muito bom!

 

 

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